terça-feira, 26 de dezembro de 2017

São Francisco de Assis explica a perfeita alegria


Uma alegria radical, surpreendente e incompreensível para a mente do mundo!

Vindo São Francisco certa vez de Perusa para Santa Maria dos Anjos com frei Leão, em tempo do inverno e atormentado pelo fortíssimo frio, frei Leão pediu-lhe:
Pai, peço-te, da parte de Deus, que me digas onde está a perfeita alegria.
E São Francisco assim lhe respondeu:
Quando chegarmos a Santa Maria dos Anjos, inteiramente molhados pela chuva e transidos de frio, cheios de lama e aflitos de fome, e batermos à porta do convento, e o porteiro chegar irritado e disser:
‒ Quem são vocês?
E nós dissermos:
‒ Somos dois dos vossos irmãos, e ele disser:
‒ Não dizem a verdade; são dois vagabundos que andam enganando o mundo e roubando as esmolas dos pobres; fora daqui!
E não nos abrir e deixar-nos estar ao tempo, à neve e à chuva, com frio e fome até à noite: então, se suportarmos tal injúria e tal crueldade, tantos maus tratos, prazenteiramente, sem nos perturbarmos e sem murmurarmos contra ele (…) escreve que nisso está a perfeita alegria.
E se ainda, constrangidos pela fome e pelo frio e pela noite batermos mais e chamarmos e pedirmos pelo amor de Deus com muitas lágrimas que nos abra a porta e nos deixe entrar, e se ele mais escandalizado disser:
‒ Vagabundos importunos, pagar-lhes-ei como merecem.
E sair com um bastão nodoso e nos agarrar pelo capuz e nos atirar ao chão e nos arrastar pela neve e nos bater com o pau de nó em nó:
Se nós suportarmos todas estas coisas pacientemente e com alegria, pensando nos sofrimentos de Cristo bendito, as quais devemos suportar por seu amor:
Ó irmão Leão, escreve que aí e nisso está a perfeita alegria, e ouve, pois, a conclusão, irmão Leão.
Acima de todas as graças e de todos os dons do Espírito Santo, os quais Cristo concede aos amigos, está o de vencer-se a si mesmo, e, voluntariamente, pelo amor, suportar trabalhos, injúrias, opróbrios e desprezos.
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Excerto dos “Fioretti de São Francisco”, via Contos e Lendas Medievais

sábado, 4 de novembro de 2017

DUAS CARTAS DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS AOS FIÉIS

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No céu Francisco fulgura, 
cheio de glória e de luz, 
trazendo em seu corpo as chagas, 
sinais de Cristo e da Cruz. 

Seguindo o Cristo na terra, 
pobre de Cristo se faz, 
na cruz com Cristo pregado, 
torna-se arauto da paz. 

Pelo martírio ansiando, 
tomou a cruz do Senhor: 
do que beijou no leproso 
contempla agora o esplendor. 

Despindo as vestes na praça, 
seu pai na terra esqueceu; 
reza melhor o Pai-nosso, 
junta tesouros no céu. 

Tendo de Cristo a pureza, 
mais do que o sol reluzia, 
e, como o sol à irmã lua, 
Clara em seu rastro atraía. 

Ao Pai e ao Espírito glória 
e ao que nasceu em Belém. 
Deus trino a todos conceda 
os dons da cruz: Paz e Bem.
(Liturgia das Horas: Laudes)


São Francisco de Assis por sua humildade, santidade e desapego das coisas terrenas mereceu o título de Santo Seráfico, ou seja, sua vida atingiu tal grau de perfeição que ele recebeu o prêmio de estar no Céu diante de Deus e sentar-se no trono de um dos anjos apostatas da mais alta hierarquia, um Serafim. Significa que São Francisco alcançou o grau de um completo abrasamento no Amor de Deus, como abordamos no texto O QUE OS ANJOS NOS ENSINAM SOBRE O DOM DA SABEDORIA?| SÉTIMO PASSO NO CASTELO INTERIOR (aqui).

Existem no minimo 11 cartas escritas por São Francisco de Assis, as duas seguintes, que nos propomos divulgar, são destinadas aos fiéis. Durante a leitura é fácil notar as características da radicalidade cristã - que abordamos no texto PELA VOLTA DA RADICALIDADE: aqui - e nos ajuda no entendimento de muitas heresias e erros atuais que, no entanto, não são inovações desse tempo, pois muitos dos temas hoje debatidos foram frontalmente esclarecidos e refutados por São Francisco e também São Domingos no combate contra os cátaros.

Além do dito acima, observa-se também um esforço catequético incansável desse santo seráfico, evangelizando usando a Boa Nova, ou seja, os novíssimos: Morte, Juízo, Inferno e Paraíso.

Eis uma das grandes almas que inspiram esse apostolado: Paz e Bem!

Primeira Carta aos Fiéis
Exortação aos irmãos e às irmãs sobre a penitência

Em nome do Senhor!


Capítulo 1

Dos que fazem penitência

1.Todos os que amam o Senhor com todo o coração, com toda a alma e a mente, com toda a força (cfr. Mc 22,39) e amam seus próximos como a si mesmos (cfr. Mt 22,39),

2.e odeiam seus corpos com os vícios e pecados,

3.e recebem o corpo e o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo,

4 e fazem frutos dignos de penitência:

5.Oh! como são bem-aventurados e benditos, eles e elas, enquanto fazem essas coisas e nelas perseveram,

6.porque des-cansará sobre eles o espírito do Senhor (cfr. Is 11, 2) e neles fará sua casa e morada (cfr. Jo 14, 23),

7.e são filhos do Pai celeste (cfr. Mt 5,45), cujas obras fazem, e são esposos, irmãos e mães de nosso Senhor Jesus Cristo (cfr. Mt. 12, 50).

8.Somos esposos, quando pelo Espírito Santo une-se a alma fiel a nosso Senhor Jesus Cristo.

9.Somos seus irmãos quando fazemos a vontade do Pai que está nos céus (Mt 12, 50).

10.Mães, quando o levamos em nosso coração e em nosso corpo (Cfr. 1Cor 6, 20), pelo amor divino e a consciência pura e sincera; e o damos à luz pela santa operação, que deve iluminar os outros com o exemplo (cfr. Mt 5, 16).

11.Oh! como é glorioso, santo e grande ter nos céus um Pai!

12.Oh! como é santo ter tal esposo: paráclito, belo e admirável!

13.Oh! como é santo e dileto ter tal irmão e filho, agradável, humilde, pacífico, doce, amável e sobre todas as coisas desejável: Nosso Senhor Jesus Cristo! que deu a vida por suas ovelhas (cfr. Jo 10,15) e orou ao Pai dizendo:

14.Pai santo, guarda-os em teu nome (Jo 17, 11), os que me deste no mundo; eram teus e mos deste (Jo 17,6).

15.E as palavras que me deste, lhas dei; e eles as receberam e creram, de verdade, que saí de ti e conheceram que me enviaste (Jo 17,8).

16.Rogo por eles e não pelo mundo (cfr. Jo 17, 9).

17.Bendize-os e santifica-os (Jo 17, 17), e por eles santifico a mim mesmo (Jo 17,19).

18.Não rogo só por eles, mas por aqueles que hão de crer em mim por sua palavra (Jo 17, 20), para que sejam santificados em um (Cfr. Jn 17, 23), como também nós (Jo 17, 11).

19.E quero, Pai, que onde eu estou também eles estejam comigo, para que vejam minha claridade (Jo 17,24) em teu reino (Mt 20,21). Amém.


Capítulo 2

Os que não fazem penitência

1.Mas todos aqueles e aquelas que não vivem em penitência,

2.e não recebem o corpo e o sangue de nosso Senhor Jesus Cristo,

3.e cometem vícios e pecados

4.e que andam atrás da concupiscência má e dos maus desejos de sua carne, e não guardam o que prometeram ao Senhor,

5.e servem corporalmente ao mundo com os desejos carnais e com as preocupações do século e com os cuidados desta vida:

6.presos pelo diabo, de quem são filhos e cujas obras fazem (cfr. Jo 8,41),

7.são cegos, porque não vêem a luz verdadeira, nosso Senhor Jesus Cristo.

8.Não têm a sabedoria espiritual, porque não têm o Filho de Deus, que é a verdadeira sabedoria do Pai,

9.dos quais se diz: Sua sabedoria foi devorada (Ps 106, 27); e malditos os que se afastam de seus mandatos (Ps 118, 21).

10.Vêem e conhecem, sabem e fazem o mal e eles mesmos perdem, sabendo, as almas.

11.Vede, cegos, enganados por vossos inimigos: pela carne, o mundo e o diabo; porque para o corpo é doce fazer o pecado e é amargo fazê-lo servir a Deus;

12.porque todos os vícios e pecados saem e procedem do coração dos homens, como diz o Senhor no Evangelho (cfr. Mc 7, 21).

13.E nada tendes neste século nem no futuro.

14.E calculais que possuís por muito tempo as vaidades deste século, mas estais enganados, porque virá o dia e a hora, em que não pensais, não sabeis e ignorais; adoece o corpo, a morte se aproxima e assim se morre com amarga morte.

15.E onde quer, quando quer, como quer que morra o homem em pecado mortal, sem penitência e satisfação, se pode satisfazer e não satisfaz, o diabo arrebata sua alma de seu corpo com tanta angústia e tribulação, que ninguém pode saber senão quem as sofre.

16.E todos os talentos e poder e ciência e sabedoria (2Par 1, 12), que calculavam ter, deles serão tirados (cfr. Lc 8, 18; Mc, 4, 25).

17.E o deixam aos parentes e amigos e eles tomaram e dividiram sua riqueza e disseram depois: Maldita seja sua alma, porque podia dar-nos e conseguir mais do que conseguiu.

18.Os vermes comem o corpo, e assim perderam corpo e alma neste breve século e irão para o inferno, onde serão atormentados sem fim.

19.A todos a quem chegar esta carta, rogamos, na caridade que é Deus (cfr. 1Jo 4, 16), que recebam benignamente com a-mor divino estas sobreditas odorosas palavras de nosso Senhor Jesus Cristo.

20.E os que não sabem ler, façam com que as leiam muitas vezes;

21.e as guardem consigo com santa operação até o fim, porque são espírito e vida (Jo 6, 64).

22.E os que não fizerem isto, terão que dar conta no dia do juízo (cfr. Mt 12, 30), diante do tribunal de nosso Senhor Jesus Cristo (cfr. Rm 14, 10).


Foi Paulo Sabatier quem publicou pela primeira vez este Escrito, no ano de 1900. Ele o achara no Códice de Volterra. Deu-lhe o nome de Verba vitae et salutis (Palavras de vida e de salvação) e disse que se tratava de um primeiro esboço do Escrito hoje conhecido como Segunda Carta aos Fiéis (que ainda não tinha sido publicado naquele tempo). Lemmens e Boehmer aceitaram o escrito mas disseram que se tratava de um resumo posterior. Esser conseguiu provar que se tratava realmente de uma primeira versão, mais antiga, da outra e lhe deu esse nome de “Carta aos Fiéis - primeira recensão”, corrigindo o título dado por Sabatier. Essa primeira versão, bem de acordo com o que dizem o Anônimo Perusino (41) e a Legenda dos Três Companheiros (60), é escrita no plural, pelos frades, com São Francisco. É um belíssimo e simples documento que fala dos que fazem e dos que não fazem penitência. Na segunda edição da obra de Esser, Grau aproveitou estudos feitos por Pazzelli e mostrou que, de fato, não se trata de uma Carta mas de um “louvor” a Deus pelos que fazem penitência: os que chamamos de Irmãos e Irmãs da Penitência. E que o título de Sabatier estava correto...



Segunda Carta


Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

1.A todos os cristãos religiosos, clérigos e leigos, homens e mulheres, a todos os que moram no mundo inteiro, Frei Francisco, seu servo e súdito: submissão com reverência, paz verdadeira do céu e sincera caridade no Senhor.

2.Como sou servo de todos, a todos estou obrigado a servir e a prestar-lhes em serviço as odorosas palavras de meu Senhor.

3.Por isso, considerando na mente, que, em pessoa, pela enfermidade e debilidade do meu corpo, não poderia visitar a cada um, me propus, por meio desta carta e de mensageiros, anunciar-lhes as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é Palavra do Pai, e as palavras do Espírito Santo, que são espírito e vida (Jo 6,64).

4.Esta Palavra do Pai, tão digna, tão santa e gloriosa, foi anunciada pelo altíssimo Pai lá do céu, por meio de seu santo anjo Gabriel, no útero da santa e gloriosa Virgem Maria, de cujo útero recebeu a verdadeira carne de nossa humanidade e fragilidade.

5.O qual, sendo rico (2 Cor 8,9) sobre todas as coisas, quis ele mesmo escolher a pobreza no mundo com a beatíssima Vir-gem, sua mãe.

6.E perto da paixão, celebrou a Páscoa com seus discípulos e tomando o pão, deu graças e o abençoou e partiu, dizendo: Tomai e comei, este é meu corpo (Mt 26,26).

7.E tomando o cálice disse: Este é meu sangue do Novo Testamento, que por vós e por muitos será derramado para remissão dos pecados (Mt 26,27).

8.Depois orou ao Pai dizendo: Pai, se for possível, afaste-se de mim este cálice.

9.E seu suor tornou-se como gotas de sangue que caíam na terra (Lc 22,44).

10.Mas colocou sua vontade na vontade do Pai, dizendo: Pai, faça-se tua vontade (Mt 26,42); não como eu quero, mas como tu (Mt 26,39).

11.A vontade desse Pai foi que seu Filho, bendito e glorioso, que nos deu e nasceu por nós, se oferecesse por seu próprio sangue, como sacrifício e hóstia na ara da cruz;

12.não para si, por quem foram feitas todas as coisas (cfr. Jo 1,3), mas por nossos pecados,

13.deixando-nos exemplo, para que sigamos suas pegadas (cfr. 1Pe 2,21).

14.E quer que todos nos salvemos por ele e o recebamos com coração puro e com nosso corpo casto.

15.Mas são poucos os que querem recebê-lo e ser salvos por ele, embora seu jugo seja suave e sua carga leve (Mt 11,30).

16.Os que não querem provar como é suave o Senhor (cfr. Ps 33,9) e amam as trevas mais do que a luz (Jo 3,19), não querendo cumprir os mandamentos de Deus, são malditos;

17.sobre eles é dito pelo profeta: Malditos os que se afastam de teus mandamentos (Ps 118,21).

18.Mas, oh! como são bem-aventurados e benditos aqueles que amam a Deus e fazem como diz o próprio Senhor no Evangelho: Amarás ao Senhor teu Deus com todo o coração e com toda a mente e a teu próximo como a ti mesmo (Mt 22,37,39).

19.Amemos, pois, a Deus e adoremo-lo com coração puro e mente pura, porque buscando isto sobre todas as coisas, disse: Os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade (Jo 4,23).

20.Pois todos os que o adoram, é preciso que o adorem no Espírito da verdade (cfr. Jo 4,24).

21.E digamos-lhe louvores e orações dia e noite (Sl 31,4) dizendo: Pai nosso, que estás nos céus (Mt 6,9), porque é preciso que oremos sempre e não desfaleçamos (Lc 18,1).

22.Devemos certamente confessar ao sacerdote todos nossos pecados; e receba-mos dele o corpo e o sangue de nosso Se-nhor Jesus Cristo.

23.Quem não come sua carne e não bebe seu sangue (cfr. Jo 6,55, 57), não pode entrar no reino de Deus (Jo 3,5).

24.Mas coma e beba dignamente, porque quem recebe indignamente come e bebe sua própria condenação, não distinguindo o corpo do Senhor (1Cor 11,29), isto é, não o discerne.

25.Façamos, além disso, frutos dignos de penitência (Lc 3,8).

26.E amemos o próximo como a nós mesmos (cfr. Mt 22,39).

27.E se alguém não quiser amá-lo como a si mesmo, pelo menos não lhes cause mal, faça o bem.

28.Mas os que receberam o poder de julgar os outros, exerçam o julgamento com misericórdia, como eles mesmos querem obter misericórdia do Senhor.

29.Pois haverá juízo sem misericórdia para aqueles que não fizerem misericórdia (Tg 2,13).

30.Portanto, tenhamos caridade e humildade, e façamos esmolas, porque elas lavam a alma das manchas dos pecados (cfr. Tb 4,11; 12,9).

31.Pois os homens perdem tudo que deixam neste século, mas levam consigo o preço da caridade e as esmolas que fizeram, pelas quais obterão do Senhor prêmio e digna remuneração.

32.Também devemos jejuar e abster-nos dos vícios e pecados (cfr. Sir 3, 32) e do excesso de comidas e bebida, e ser católicos.

33.Também devemos visitar as igrejas freqüentemente e venerar os clérigos e reverenciá-los, não só por eles, se forem pecadores, mas pelo ofício e administração do santíssimo corpo e sangue de Cristo, que sacrificam no altar e recebem e administram aos outros.

34.E saibamos firmemente todos que ninguém pode salvar-se, senão pelas santas palavras e o sangue de nosso Senhor Jesus Cristo, que os clérigos pronunciam anunciam e administram.

35.E só eles devem administrar e não outros.

36.E especialmente os religiosos, que renunciaram ao século, estão obrigados a fazer mais e maiores coisas, mas sem omitir estas (cfr. Lc 11,42).

37.Devemos ter ódio a nossos corpos com os vícios e pecados, porque diz o Senhor no Evangelho: Todos os males, vícios e pecados saem do coração (Mt 15,18 s.; Mc 7,23).

38.Devemos amar a nossos inimigos e fazer o bem aos que nos têm ódio (cfr. Mt 5,44; Lc 6,27).

39.Devemos observar os preceitos e conselhos de nosso Senhor Jesus Cristo.

40.Devemos também negar a nós mesmos (cfr. Mt 16,24) e por nossos corpos sob o jugo da servidão e da santa obediência, como cada um prometeu ao Senhor.

41.E ninguém tenha que obedecer por obediência a alguém naquilo em que se comete delito ou pecado.

42.Mas aquele a quem foi encomendada a obediência e que é tido como maior, seja como menor (Lc 22, 26) e servo dos outros irmãos.

43.E para com cada um de seus irmãos faça e tenha a misericórdia, que quisera que a ele se fizesse, se estivesse em caso semelhante.

44.E não se irrite contra o irmão pelo delito do ir-mão, mas benigna-mente o admoeste e suporte com toda paciência e humildade.

45.Não devemos ser sábios e prudentes segundo a carne (1Cor 1,26), mas antes devemos ser simples, humildes e puros.

46.E tenhamos nossos corpos em opróbrio e desprezo, porque todos, por nossa culpa, somos miseráveis e podres, hediondos e vermes, como diz o Senhor pelo profeta: Eu sou um verme e não um homem, opróbrio dos homens e desprezo do povo (Sl 21,7).

47.Nunca devemos desejar estar acima dos outros, antes devemos ser servos e submissos a toda humana criatura por Deus (1 Pd 2,13).

48.E todos, eles e elas, enquanto isso fizerem e perseverarem até o fim, descansará sobre eles o Espírito do Senhor (Is 11,2) e fará neles habitação e morada (cfr. Jo 14,23).

49.E serão filhos do Pai celeste (cfr. Mt 5,45), cujas obras fazem.

50.E são esposos, irmãos e mães de nosso Senhor Jesus Cristo (cfr. Mt 12,50).

51.Somos esposos, quando pelo Espírito Santo une-se a alma fiel a Jesus Cristo.

52.Somos certamente irmãos, quando fazemos a vontade de seu Pai, que está no céu (cfr. Mt 12,50);

53.mães, quando o levamos no coração e em nosso corpo (cfr. 1Cor 6,20) pelo amor e a consciência pura e sincera; o damos à luz pela santa operação, que deve iluminar os outros com o exemplo (cfr. Mt 5, 16).

54.Oh! como é glorioso e santo e grande, ter nos céus um Pai!

55.Oh! como é santo, ter um esposo consolador, bonito e admirável!

56.Oh! como é santo e como é querido ter tal irmão e tal filho, agradável, humilde, pacífico, doce, amável e mais desejável do que todas as coisas, que deu a vida por suas ovelhas (cfr. Jo 10,15) e orou ao Pai por nós dizendo: Pai santo, guarda em teu nome, os que me deste (Jo 17,11).

57.Pai, todos os que me deste no mundo, eram teus e os deste a mim (Jo 17,6).

58.E as palavras que me deste, eu lhes dei; e eles as receberam e conheceram verdadeiramente que saí de ti e creram que tu me enviaste (Jo 17,8); rogo por eles e não pelo mundo (cfr. Jo 17,9); abençoa-os e santifica-os (Jo 17,17).

59.E por eles santifico a mim mesmo, para que sejam santificados na (Jo 17,19) unidade, como também nós (Jo 17,11) o somos.

60.E quero, Pai, que onde eu estou também eles estejam comigo, para que vejam minha glória (Jo 17, 24) em teu reino (Mt 20,21).

61.Mas àquele que por nós suportou tantas coisas, que nos trouxe e trará tantos bens no futuro, toda cria-tura que há nos céus, na terra, no mar e nos abismos retri-bua louvor, glória, honra e bênção (cfr. Apoc 5,13),

62.porque ele é força e fortaleza nossa, o único bom, o único altíssimo, o único onipotente, admirável, glorioso, o único santo, louvável e bendito pelos infinitos séculos dos séculos. Amém.

63.Mas todos aqueles que não estão em penitência e não recebem o corpo e o sangue de nosso Senhor Jesus Cristo,

64.e operam vícios e pecados, e que andam atrás da má concupiscência e dos maus desejos, e não observam o que prometeram,

65.e servem corporalmente o mundo pelos cuida-dos e preocupações deste século e pelos cuidados desta vida,

66.enganados pelo diabo, de quem são filhos e cujas obras fazem (cfr. Jo 8,41), são cegos, porque não vêm a luz verdadeira, nosso Senhor Jesus Cristo.

67.Não têm a sabedoria espiritual, porque não têm o Filho de Deus em si, que é a verdadeira sabedoria do Pai, e deles se diz: Sua sabedoria foi devorada (Sl 106, 27).

68.Vêem, conhecem, sabem e fazem o mal, e perdem as almas conscientemente.

69.Vêde, cegos, enganados por nossos inimigos, a saber, pela carne, pelo mundo e pelo diabo, que para o corpo é doce fazer o pecado e amargo servir a Deus, porque todos os males, vícios e pecados do coração dos homens saem e procedem (cfr. Mc 7, 21, 23), como diz o Senhor no Evangelho.

70.E nada tendes neste século nem no futuro.

71.Por longo tempo calculais possuir as vaidades deste século. mas estais enganados, porque virá o dia e a hora em que não pensais, e não sabeis e ignorais.

72.Adoece o corpo, aproxima-se a morte, vêm os parentes e amigos dizendo: Dispõe de teus bens.

73.Eis sua mulher, parentes e amigos fingindo chorar.

74.Olha e os vê chorando; é levado por um mau passo; pensa consigo mesmo, e diz: Ponho a alma, o corpo e todas as minhas coisas em vossas mãos.

75.Verdadeiramente amaldiçoado é esse homem, que confia e expõe alma, corpo e todas as suas coisas em tais mãos;

76.por isso, diz o Senhor pelo profeta: Maldito o homem que confia no homem (Jr 17,15).

77.E logo fazem vir o sacerdote; diz-lhe o sacerdote: “Queres receber a penitência de todos teus pecados?”.

78.Responde: “Quero”. “Queres satisfazer como podes com teus bens, pelos pecados e por essas coisas em que defraudaste e enganaste as pessoas?”.

79.Responde: “Não”. E o sacerdote diz: “Por que não?”.

80.“Porque distribuí tudo nas mãos dos parentes e amigos”.

81.E começa a perder a fala e assim morre aquele miserável.

82.Mas saibam todos que, onde quer e como quer que morra o homem em pecado mortal sem satisfação, se podia satisfazer e não satisfez, o diabo arrebata sua alma de seu corpo, com tanta angústia e tribulação, como ninguém pode saber, a não ser quem o sofre.

83.E todos os talentos e poder e ciência, que pensava ter (cfr. Lc 8,18) ser-lhe-ão tirados (Mc 4,25).

84.E deixa-o para os parentes e amigos, e eles tomarão e dividirão sua riqueza e dirão depois: “Maldita seja sua alma, porque podia dar-nos e conseguir mais do que conseguiu,”.

85.Os vermes comem o corpo; e assim perde corpo e alma neste breve século e irá para o inferno, onde será atormentado sem fim.

86.Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

87.Eu, frei Francisco, vosso menor servo, vos rogo e conjuro, na caridade que é Deus (cfr. 1 Jo 4,16), e com a vontade de beijar vossos pés, que deveis receber e pôr em prática e observar estas e as outras palavras de nosso Senhor Jesus Cristo com humildade e caridade.

88.E todos aqueles e aquelas que benignamente as receberem, entenderem e enviarem a outros para exemplo, e se nelas perseverarem até o fim (Mt 24,13), bendiga-os o Pai e o Filho e o Espírito Santo. Amém.

Wadding publicou esta carta dividida em duas, baseando-se em um manuscrito. Mas hoje temos muitos outros manuscritos, inclusive do sec. XIII, que dão o texto como uma única carta. Sua autenticidade é aceita. Talvez se possa situar a primeira recensão por volta de 1212 e esta por volta de 1222. Bem mais longa, esta nos faz pensar em como a Regra primitiva dos Frades Menores foi se transformando na Regra não bulada: na medida em que aumentava o número dos Irmãos e Irmãs da Penitência e em que as dificuldades iam aparecendo, a Carta foi crescendo. É fácil perceber como muitos trechos novos foram colocados para esclarecer quanto aos erros dos cátaros, que deviam influenciar muitos irmãos.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Grandeza do silêncio

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Um grande conhecedor da grandeza inefável do silêncio com Deus, Ernest Psichari, escrevia:
“A esses grandes espaços de silêncio que atravessaram a minha vida, devo eu afinal tudo o que em mim possa haver de bom.
Pobres daqueles que não conheceram o silêncio! O silêncio, que faz mal e que faz bem, que faz bem com o mal! O silêncio que desliza como um grande rio sem escolhos...Por muitas vezes ele veio ter comigo, como um mestre bem-amado, e parecia ser um pouco de céu que descia até o homem para o tornar melhor...
Então, eu parava cheio de amor e de respeito, porque o silêncio é também o mestre do amor”.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Suave e Seguro

"Toma sempre as coisas pelo lado mais suave e seguro. Pensa bem antes de dar conselhos e esteja sempre pronto a seguir. Fala bem dos teus amigos; e do teu inimigo não fales nem bem nem mal. A resposta suave e humilde quebranta a ira, as palavras duras excitam o furor."

#SantoAntônioMariaClaret

Marcados por Deus - São francisco de Assis

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Aprenda a rezar

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➖APRENDA A REZAR➖

📃Descubra a sua forma de rezar e como deve ser sua oração.

A oração é a forma de dialogar com Deus.

Cada pessoa passa por momentos particulares na vida, e cada uma segue seu ritmo. O importante é descobrir também o próprio ritmo de oração, fazer do encontro com Deus um encontro personalizado. O Senhor não é uma ideia nem uma energia impessoal, como o calor do sol ou a brisa do vento. Ele é uma pessoa viva e verdadeira com quem podemos e devemos dialogar. É necessário tratá-Lo como o melhor amigo que temos e recebe-Lo dentro de nós numa atitude de acolhida, preparar para Ele um espaço na nossa vida. Os hóspedes sempre devem ser recebidos bem. Devemos acolher a Deus e ter consciência de que Ele tem um único desejo: amar-nos e fazer a nossa vontade.

Santa Terezinha é um modelo de oração. Ela diz: “nunca passei mais de três minutos sem pensar em Deus!”

📃Como devo rezar?

Gostaria de poder apresentar algumas indicações de, ao rezar, deixar a liberdade de ampliar sua oração como mais lhe agradar. Nenhum caminho pode ser estático, ele deve ser dinâmico, aberto para introduzir outras motivações e tirar algumas que, em determinado momento, já não nos dizem mais nada. Nós mudamos muito. Não seria conveniente usar, no inverno, roupa de verão; nem no verão, roupa de frio. Nossa oração deve corresponder às exigências que encontramos no caminho da vida.

Antes de iniciar a sua oração, faça silêncio dentro e fora de você, para perceber o impulso da sua vida interior. Do que você necessita hoje? Como quer viver o tempo que o Senhor lhe dá.

O seu encontro com Deus não pode ser um instante fugaz e rápido, mas constante e permanente. Da sua situação humana, afetiva, psicológica e social vai depender também o seu modo de rezar, de pedir e dialogar com Deus. Há pessoas que rezam sempre a mesma oração pedindo chuva, mesmo quando há enchente que atrapalha tudo e provoca desastres. Justificam-se na maneira de rezar: “Em algum lugar do mundo devem existir lugares que precisam de chuva!”. A oração tem um caráter universal, mas Jesus nos ensinou, em várias circunstâncias, a historicizar a nossa oração, fazê-la nascer da vida concreta, do dia a dia.

📃Sinta a presença de Deus nas orações

Já foi dito, várias vezes, que a oração não pode ser restrita a momentos particulares. É a vida que deve tornar-se oração, devemos colocar-nos continuamente na presença de Deus, que orienta e sustenta o nosso caminho. É importante ter sempre à nossa frente a Bíblia, e acompanhar, por meio de sua leitura meditativa, a história do povo que vai a caminho de terra prometida, percorrendo noites, desertos, até chegar à conclusão de que a felicidade que Deus oferece não é a de situações baratas, ela exige de nós constantes renúncias, um saber dizer não a tudo o que nos afasta de Deus e assumir a verdade como único caminho.

O ser humano, na sua caminhada sobre a Terra, depara com aquelas situações obscuras que tornam impossível continuar o caminho sozinho. É preciso Deus. Sem Ele, não há uma visão completa e harmoniosa da existência humana. Muitas vezes, encontramo-nos em situações em que nos sentimos tão pobres, que necessitamos de Deus como a terra precisa de água para viver; as plantas, do sol; e a vida, de amor.

Na verdade, só Deus é força. Precisamos nos convencer de que só Deus – Pai, Filho e Espírito Santo – é a fonte de nossa felicidade, e só Ele pode mudar, como diz o salmista, a sorte de nossa vida.

O caminho depende de nossa fidelidade e amor. Deus sozinho não age, precisa de nossa cooperação, do nosso sim.

Frei Patrício Sciadini
Artigo extraído do livro “Quando rezar?”

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Testemunho de experiência vocacional na Cartuxa


"Certamente ter a vocação para este rígido estilo de vida é uma coisa magnífica"

Oferecemo-vos esta carta de um jovem que teve a coragem de experimentar a vida consagrada para melhor discernir a sua vocação, com o objetivo de aproximar-vos à simplicidade da vida monástica e encorajar-vos a persistir na busca do vosso lugar no coração da Igreja.
“Realizei a experiência de viver 15 dias no interior da Cartuxa Argentina de São José em Dean Funes, certamente um viver a espiritualidade mística muito forte. A vida cartusiana é muito especial, o viver em solidão quase todas as 24 horas do dia diante de Deus e para si mesmo na solidão e no silêncio é uma experiência inesquecível.
Após chegar à cartuxa, eu fui recebido e acolhido pelo Prior, o qual me conduziu à cela porque eu tinha escolhido a vida de sacerdócio pela qual se pretende viver essencialmente no isolamento da cela. Depois de ter atravessado o claustro chegamos à cela destinada a mim, ele me descreveu os horários e os compromissos do dia: rezar, ir à igreja, pegar a refeição e o momento de dormir.
Assim que eu fiquei sozinho, ocupei-me em trocar de roupa e organizar os meus objetos pessoais no banheiro e no criado-mudo. Após ter completado estas formalidades ordinárias, comecei a me perguntar: E agora? O que faço? Creio que seja a pergunta mais óbvia que se fazem todos aqueles que se encontraram e que se encontrarão na minha situação. No silêncio total e absoluto optei por agradecer a Deus por ter me dado a oportunidade de estar naquele lugar naquele momento. Então eu comecei a apreciar a cela com o genuflexório, em seguida preparei para mim o chá e comecei a ler os Estatutos da Ordem.
Cada hora que passava o ambiente ao meu redor parecia mais familiar e me coloquei à espera da visita de um irmão converso, que como me tinha anunciado o Prior, viria à minha cela para me ensinar a confeccionar livros. A espera foi em vão, porque não pretendiam me fazer cansar, permitindo-me repousar da viagem que fiz para chegar na cartuxa.
Em relação aos tempos de oração, são intensos. De fato são diferentes da liturgia das horas comum que podemos rezar na nossa casa, eles dividiram o Saltério em dois e se percebe um modo especial de viver a oração. Vigílias de oração comunitária e outras horas que se recitam na Capela fazem perceber a comunidade como uma família recolhida em oração ao nosso Pai, elevando para o Seu louvor orações e salmos. O tom dos cantos é muito lento, ‘mastigando’ devagar cada palavra o som se torna penetrante para o coração.
A Santa Missa na qual participei é uma experiência realmente única. É quase completamente silenciosa, se fala muito pouco, mas não é mais um Sacrifício sobre o altar de cada um dos irmãos e dos padres do mosteiro. Na realidade, para mim, a Missa é a melhor parte do dia.
Sobre o trabalho na cela, cada um trabalha no próprio jardim, na carpintaria ou no balcão para a encadernação. Certamente ter a vocação para este rígido estilo de vida é uma coisa magnífica, mas precisa ter uma força mental e uma propensão à espiritualidade a ser cultivada diariamente.
Existem enormes dificuldades a superar, como enfrentar a solidão que nos induz à incertezas nas quais só Deus poderá estar perto de nós e nos fazer entender que tudo é possível, mas somente se o queremos verdadeiramente. Cada tipo de vida religiosa tem os seus problemas e não precisa ficar com medo do rigor cartusiano ou da alimentação essencial e privada de carne.
Portanto, quem escreve esta carta, que eu sei será publicada e, então, lida por muitos jovens fascinados pela vida cartusiana, vos encoraja a continuar a buscar e esperar um chamado vocacional. É necessário ser corajosos e convictos, contactar o próprio diretor espiritual ou a cartuxa na qual gostaria de tentar fazer uma experiência.
Deus vos abençoe e São Bruno possa guiar-vos no caminho da santidade”.

Via: https://cartusialover.wordpress.com/ “Tudo sobre o Universo Cartusiano”

Jovem judeu, ele virou monge cartuxo graças ao comentário de um professor católico


O nível de convicção do professor Dietrich von Hildebrand a respeito da sua fé católica teve um impacto surpreendente

O testemunho apresentado a seguir é da Dra. Alice von Hildebrand, esposa do professor Dietrich von Hildebrand, a quem o Papa Pio XII chegou a chamar de “Doutor da Igreja do século XX”.
Relata ela:
Em 1946, depois da Segunda Grande Guerra, o meu marido lecionava na Universidade de Fordham quando apareceu nas suas aulas um estudante judeu, que tinha sido oficial da Marinha durante a guerra. Um dia, ele confidenciou ao meu marido o quanto era belo o pôr-do-sol no Oceano Pacífico e como aquilo o tinha levado à busca da verdade sobre Deus.
Esse jovem tinha decidido entrar na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, para estudar filosofia, mas logo percebeu que não era isso o que realmente procurava. Um amigo lhe sugeriu então que fosse estudar filosofia em Fordham e mencionou o nome de Dietrich von Hildebrand.
Depois da primeira aula com o meu marido, ele soube que tinha encontrado o que procurava.
Um dia, depois das aulas, meu marido e o estudante foram dar um passeio a pé. O jovem lhe disse que estava surpreso com o fato de vários professores terem lhe afirmado que não tentariam convertê-lo ao catolicismo, sabendo que ele era judeu.
Estupefato, o meu marido parou, virou-se para ele e perguntou:
– Eles disseram o quê?!
O estudante repetiu a história. Meu marido respondeu:
– Pois eu iria até o fim do mundo e viria de volta para você se tornar católico!“.
É muito difícil medir o impacto que esse testemunho de convicção do professor a respeito da sua fé católica possa ter tido no jovem, mas não erraria por muito quem dissesse que o impacto foi grande…
Afinal, não passou muito tempo até que aquele jovem judeu não apenas se convertesse ao catolicismo, mas ainda se tornasse monge na cartuxa de Vermont, a única existente nos Estados Unidos, e, alguns anos depois, fosse ordenado sacerdote.

https://pt.aleteia.org/2017/03/16/jovem-judeu-ele-virou-monge-cartuxo-gracas-ao-comentario-de-um-professor-catolico/?utm_campaign=NL_pt&utm_source=daily_newsletter&utm_medium=mail&utm_content=NL_pt

domingo, 21 de maio de 2017

Impressão das Chagas de São Francisco: o sentido e o significado

 

São Francisco não contentou-se em unicamente seguir o Cristo. No seu encantamento com a pessoa do Filho de Deus, assemelhou-se e configurou-se com Ele.

 No dia 17 de setembro a Família Franciscana celebra, em todo o mundo, a festa da impressão das Chagas, também chamada de Estigmas de São Francisco de Assis. Veiculamos a seguir um artigo do Frei Régis G. Ribeiro Daher, publicado hoje no website Franciscanos:

Mais do que desvendar o caráter histórico das Chagas de São Francisco, importa refletir sobre a experiência de vida que se esconde sobre este fato. O que significa a expressão de Celano “levava a cruz enraizada em seu coração”? O que isso significou para o próprio Francisco? Há um significado para nós hoje, naquilo que com ele ocorreu?
Um erro comum é o de ver São Francisco como uma figura acabada, pronta, sem olhar para a caminhada que ele fez até chegar à semelhança perfeita (configuração) com o Cristo. O que ocorreu no Monte Alverne é o cume de toda uma vida, de uma busca incessante de Francisco em “seguir as pegadas de Jesus Cristo”. Francisco lançou-se numa aventura, sem tréguas, na qual deu tudo de si: a vontade, a inteligência e o amor. As chagas significam que Deus é Senhor de sua vida. Deus encontrou nele a plena abertura e a máxima liberdade para sua presença.
O segundo significado das chagas é o de que Deus não é alienação para o ser humano, ao contrário, é sua plena realização e salvação. Colocando-se como centro da própria vida é que o homem se aliena e se destrói; torna-se absurdo para si mesmo no fechamento do seu ‘ego’. O homem só encontra sua verdadeira identidade, sua própria consistência e o sentido de sua existência em Deus. E Francisco fez esta descoberta: Jesus Cristo foi crucificado em razão de seu amor pela humanidade – “amou-os até o fim” – , e ele percorre este mesmo caminho.
O terceiro significado: as chagas expressam que a vivência concreta do amor deixa marcas. A exemplo de Cristo, Francisco quis suportar/carregar e amar os irmãos para além do bem e do mal (amor incondicional). Essa atitude o levou a respeitar e acolher o ‘negativo’ dos outros mantendo a fraternidade apesar das divisões. Esse acolher e integrar o negativo da vida é a única forma de vencer o ‘diabólico’, rompendo com o farisaísmo e a autosuficiência, aniquilando o mal na própria carne. Só assim, o homem é de fato livre, porque não apenas suporta, mas ama e abraça o negativo que está em si e nos outros.
O quarto significado: seguir o Cristo implica em morrer um pouco a cada dia: “Quem quiser ser meu discípulo, tome a sua cruz a cada dia e me siga” (Lc 9,23). Não vivemos num mundo que queremos, mas naquele que nos é imposto. Não fazemos tudo o que desejamos, mas aquilo que é possível e permitido. Somos chamados a viver alegremente mesmo com aquilo que nos incomoda, vencendo-se a si mesmo e integrando o ‘negativo’, de modo que ele seja superado. Nós seremos nós mesmos na mesma medida em que formos capazes de assumir nossa cruz. As chagas de São Francisco são as chagas de Cristo, e elas nos desafiam: ninguém pode conservar-se neutro, sem resposta diante da vida.
São Francisco não contentou-se em unicamente seguir o Cristo. No seu encantamento com a pessoa do Filho de Deus, assemelhou-se e configurou-se com Ele. Este seu modo de viver está expresso na “perfeita alegria”, tema central da espiritualidade franciscana: “Acima de todos os dons e graças do Espírito Santo, está o de vencer-se a si mesmo, porque dos todos outros dons não podemos nos gloriar, mas na cruz da tribulação de cada sofrimento nós podemos nos gloriar porque isso é nosso”.

https://pt.aleteia.org/2013/09/17/impressao-das-chagas-de-sao-francisco-o-sentido-e-o-significado/

 


Franciscanos: como viver a pobreza hoje

 

O exemplo de pobreza de São Francisco para um estilo de vida sóbrio

O que é a pobreza hoje? Conversamos com dois padres franciscanos, que nos ajudam a entender o tema de uma vida cristã pobre, em todas as suas formas. "Se tivéssemos que delinear a pobreza de São Francisco hoje – disse nesta entrevista o Pe. Enzo Fortunato, do Sagrado Convento de São Francisco de Assis –, diríamos que há uma pobreza existencial, na maneira de ser, em que o homem quer despojar-se do seu subjetivismo, da sua arrogância, para entrar em diálogo com tudo o que o rodeia." A pobreza deve ser vivida, segundo o Pe. Enzo, "na essencialidade e na simplicidade, na essencialidade das coisas e na simplicidade do viver. Pobreza – continua o franciscano – significa amar as pessoas e usar as coisas, e não usar as pessoas e amar as coisas".

"Francisco de Assis – comentou, por sua vez, o Pe. Pietro Messa, diretor da Escola Superior de Estudos Medievais e Franciscanos da Pontifícia Universidade Antonianum – morreu em 4 outubro de 1226 e foi canonizado em julho de 1228. A partir daquele momento, foi chamado de santo e sua vida é contada a partir da perspectiva da santidade, ou seja, em um estilo hagiográfico que tende a destacar a vida virtuosa, incluindo a pobreza. Então, é preciso distinguir o que diz o irmão Francisco de Assis, por exemplo, em seus escritos, e o que dizem os biógrafos posteriores, algumas tendendo a exaltar o aspecto da pobreza, como o famoso 'Sacrum commercium', que conta a história de uma aliança esponsal entre santo e a pobreza. Quando Francisco, em seu testamento, resume sua vida – continuou –, a pobreza é um aspecto ausente, enquanto é central a misericórdia com os leprosos."

Como este ideal de pobreza de São Francisco poderia ser vivido na sociedade de hoje? "Na partilha dos bens – responde o Pe. Enzo Fortunato –, no saber dividir com os necessitados, com os indigentes. Este é o primeiro aspecto, e talvez mais importante: partilha e solidariedade. E depois a justiça, ou seja, ser homens e mulheres que amam a justiça." E nas escolhas concretas? "Nós precisamos ser capazes de renunciar ao supérfluo, a tudo o que torna a vida pesada, para ir ao coração das coisas."

"Mesmo em São Francisco de Assis houve momentos na vida, especialmente nos últimos tempos, depois de várias vicissitudes, em que ele mostra que o centro é a misericórdia – contou o Pe. Pietro Messa. Por exemplo, em um determinado momento, convida os irmãos a não criticar aqueles que vivem em roupas finas – o que mostra que ele percebeu que a pobreza, quando se torna uma ideologia, pode destruir a caridade. Este apelo à misericórdia, que inclui a pregação do Evangelho como fonte de salvação, significa deixar-se modelar sempre mais pelo amor de Jesus, que ensina a cuidar do outro não somente quando ele é pobre. Sobre isso, podemos lembrar da Madre Teresa de Calcutá, que, impelida pelo amor eucarístico, tinha um olhar de compaixão não só para com os mais pobres dos pobres, mas também para com pessoas como a Lady Diana. Se o amor fosse só pelos pobres, no momento em que a pessoa fica rica, ele acabaria; mas, se amamos a pessoa concreta, o olhar de benevolência envolve toda a existência."

https://pt.aleteia.org/2013/03/25/franciscanos-como-viver-a-pobreza-hoje/

O dia em que um anjo Serafim crucificou São Francisco

 

Uma experiência mística

Dois anos antes de entregar sua alma ao céu, estando no eremitério que, por sua localização, tem o nome de Alverne, Deus deu a Francisco a visão de um homem com a forma de um Serafim de seis asas, que pairou acima dele com os braços abertos e os pés juntos, pregado numa cruz. Duas asas elevavam-se sobre a cabeça, duas abriam-se para voar e duas cobriam o corpo inteiro.
Ao ver isso, o servo do Altíssimo se encheu da mais infinita admiração, mas não compreendia o sentido. Experimentava um grande prazer e uma alegria enorme pelo olhar bondoso e amável com que o Serafim o envolvia. Sua beleza era indizível, mas o fato de estar pregado na cruz e a crueldade de sua paixão atormentavam-no profundamente.
Levantou-se triste e alegre ao mesmo tempo, se isso se pode dizer, alternando em seu espírito sentimentos de gozo e de padecimento. Tentava descobrir o significado da visão e seu espírito estava muito ansioso para compreender o seu sentido. Estava nessa situação, com a inteligência sem entender coisa alguma e o coração avassalado pela visão extraordinária, quando começaram a aparecer-lhe nas mãos e nos pés as marcas dos quatro cravos, do jeito que as vira pouco antes no crucificado.
Suas mãos e seus pés pareciam atravessados bem no meio pelos cravos, sobressaindo as cabeças no interior das mãos e em cima dos pés, e as pontas do outro lado. Os sinais eram redondos nas palmas das mãos e longos no lado de fora, deixando ver um pedaço de carne como se fossem pontas de cravo entortadas e rebatidas, saindo para fora da carne. Havia marcas dos cravos também nos pés, ressaltadas na carne. No lado direito, que parecia atravessado por uma lança, estendia-se uma cicatriz que frequentemente soltava sangue, de maneira que sua túnica e suas calças estavam muitas vezes banhadas naquele sangue bendito.
Infelizmente, foram muito poucos os que mereceram ver a ferida sagrada do seu peito, enquanto viveu crucificado o servo do Senhor crucificado! Feliz foi Frei Elias, que teve algum jeito de vê-la durante a vida do santo. Não menos afortunado foi Frei Rufino, que a tocou com suas próprias mãos. Porque, num dia em que lhe friccionava o peito, sua mão escorregou casualmente para o lado direito e tocou a preciosa cicatriz. A dor que o santo sentiu foi tão grande que afastou a mão e gritou pedindo a Deus que o poupasse.
Pois tinha muito cuidado em esconder essas coisas dos estranhos, e ocultava-as mesmo dos mais chegados, de maneira que até os irmãos que eram seus companheiros e seguidores mais devotados não souberam delas por muito tempo.
E o servo e amigo do Altíssimo, embora se visse ornado com jóias tão importantes como pedras preciosíssimas e assim destacado espetacularmente acima da glória e da honra de todos os homens, não se desvaneceu em seu coração nem procurou por causa disso comprazer-se em alguma vanglória. Pelo contrário, para que o favor humano não lhe roubasse a graça recebida, procurou escondê-la de todos os modos possíveis.
Tinha decidido não revelar a quase ninguém o seu segredo extraordinário, temendo que, como costumam fazer os privilegiados, contassem a outros para mostrar como eram amigos, e isso resultasse em detrimento da graça que tinha recebido. Por isso guardava sempre em seu coração e repetia aquela frase do profeta: “Escondi tuas palavras em meu coração, para não pecar contra ti”. Tinha até combinado um sinal com seus irmãos e filhos: quando queria interromper a conversa de pessoas de fora que o visitavam, recitava aquele versículo e eles tratavam de despedi-las delicadamente.

* * *
CELANO, Tommaso da. Primeira Vida de São Francisco. Parte segunda, segundo livro. Capítulo 3, partes 94 e 95.

terça-feira, 16 de maio de 2017

O jihadista não conseguiu me degolar: “Quem é você? Eu não consigo mexer o facão!”


O arrepiante relato do padre franciscano Abuna Nirwan no Iraque

Ope. Abuna Nirwan é um franciscano que nasceu no Iraque e, antes de ser ordenado sacerdote, estudou medicina. Foi destinado à Terra Santa e, em 2004, ganhou das Irmãs Dominicanas do Rosário uma relíquia da sua fundadora e um terço usado por ela. O padre passou a trazer a relíquia e o rosário sempre consigo.
A fundadora em questão é Santa Marie Alphonsine Danil Ghattas, cristã palestina canonizada em 2015 pelo Papa Francisco. Em 2009, quando o Papa Bento XVI aprovou o milagre para a sua beatificação, a Santa Sé pediu a exumação do corpo da religiosa. Esta missão costuma caber ao bispo local, que, para realizá-la, designa um médico. E esse médico foi justamente o padre Abuna Nirwan.
Em 2004, a relíquia e o rosário… Em 2009, a exumação… E esses dois fatos extraordinários não foram os únicos que ligaram o padre Nirwan àquela santa fundadora.
Dois anos antes da aprovação do Papa Bento à beatificação da religiosa, mais um fato simplesmente arrepiante envolvendo o pe. Nirwan e a madre Marie Alphonsine tinha sido relatado pelo padre Santiago Quemada no seu blog “Un sacerdote en Tierra Santa”.

Eis o relato:

A história que vamos contar aconteceu em 14 de julho de 2007. Abuna Nirwan foi visitar a sua família no Iraque e, para isso, precisou contratar um táxi. Ele mesmo relatou o caso na homilia de uma missa que celebrou em Bet Yalla. O padre Nirwan contou:
Não havia possibilidade de ir de avião para visitar a minha família. Era proibido. O meio de transporte era o carro. Meu plano era chegar a Bagdá e ir de lá para Mossul, onde viviam os meus pais.
O motorista tinha medo por causa da situação no Iraque. Uma família, formada pelo pai, a mãe e uma menininha de dois anos, pediu para viajar conosco. O taxista me falou do pedido e eu não vi nenhum inconveniente. Eram muçulmanos. O motorista era cristão. Ele disse que havia lugar no carro e que eles podiam ir conosco. Paramos num posto de combustível e outro homem jovem, muçulmano, também pediu para ir junto até Mossul. Como ainda restava um assento, ele também foi aceito.
A fronteira entre a Jordânia e o Iraque só abre quando amanhece. Quando o sol se levantou, uma fila de cinquenta ou sessenta carros foi avançando lentamente, todos juntos.
Seguimos a viagem. Depois de mais de uma hora, chegamos a um lugar onde estavam fazendo uma inspeção. Preparamos os passaportes. O motorista nos disse: “Tenho medo desse grupo”. Antes era um posto militar, mas uma organização terrorista islâmica havia matado os militares e tomado o controle do local.
Quando chegamos, eles nos pediram os passaportes sem nos fazer descer do carro. Levaram os passaportes a um escritório. A pessoa voltou, se dirigiu a mim e disse: ‘Padre, vamos continuar a investigação. Podem ir até o escritório mais à frente. Depois já é o deserto”. “Muito bem”, respondi. Caminhamos uns quinze minutos até chegar à cabana a que eles se referiam.
Quando chegamos à cabana, saíram dois homens de rosto coberto. Um deles tinha uma câmera em uma mão e um facão na outra. O outro era barbudo e estava segurando o alcorão. Chegaram até nós e um deles perguntou: “Padre, de onde está vindo?”. Respondi que vinha da Jordânia. Depois ele perguntou ao motorista.
Depois se dirigiu ao rapaz que vinha conosco, o agarrou por trás com os braços e o matou com o facão. Amarraram as minhas mãos por trás das costas e disseram:
“Estamos gravando isto para a Al-Jazeera. Quer dizer algumas palavras? Tem menos de um minuto”.
Eu respondi:
“Não, só quero rezar”.
Eles me deram um minuto para rezar.
Depois um deles me empurrou pelo ombro para baixo até eu ficar de joelhos e me disse:
“Você é clérigo. É proibido que o seu sangue caia no chão porque é sacrilégio”.
Por isso ele foi pegar um balde e voltou com ele para me degolar. Não sei o que rezei naquele momento. Senti muito medo e disse a Maria Alphonsine:
“Não pode ser por acaso que eu trago você comigo. Se é preciso que nosso Senhor me leve ainda jovem, estou pronto. Mas, se não é, eu te peço que ninguém mais morra”.
Ele pegou a minha cabeça, segurou meu ombro com força e levantou o facão. Uns instantes de silêncio e de repente ele perguntou:
“Quem é você?”
Respondi:
“Um frade”.
“E por que eu não consigo mexer o facão? Quem é você?”.
E, sem me deixar responder, prosseguiu:
“Padre, você e todos voltem para o carro”.
Fomos de volta até o veículo.
Daquele momento em diante, eu perdi o medo da morte. Sei que um dia morrerei, mas agora é mais claro que vai ser só quando Deus quiser. Desde aquele momento, eu não tenho medo de nada nem de ninguém. O que vier a me acontecer é porque é vontade de Deus e Ele vai me dar a força para acolher a Sua cruz. O importante é ter fé. Deus cuida dos que acreditam n’Ele”.
___________
Traduzido, com adaptações, de artigo publicado pelo site Religión en Libertad (em espanhol)

quinta-feira, 11 de maio de 2017

A alma

"A alma se nivela às coisas que ama."

- Santa Catarina de Sena

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"É necessário voltar atrás, ao antigo, inclusive para encontrar o novo. Como um homem que se perdeu volta sobre seus rastros até a sinalização que indica o caminho correto. O homem moderno se parece muito com um viajante que esqueceu para onde ia e tem que voltar atrás, ao lugar de onde veio, para descobrir para onde vai"

-G. K. Chesterton

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Precisamos usar as armas que Jesus Cristo deixou para continuar a luta diária. A oração, a busca pelos sacramentos, missa, meditação da palavra de Deus, confissão, o santo rosário, a caridade, o despojamento além de outros são armas essenciais para o combate, já que o Salmo 50 nos diz: o pecado está sempre em minha frente. Promover a pessoa humana em todos os aspectos é o essencial, restituir a dignidade humana inserindo os filhos excluídos de volta a vida, Jesus Cristo foi o maior exemplo disso, Pe. Pio entedeu isso e nós precisamos continuar...

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