Se não somos uma pessoa desde o momento da concepção até a derradeira hora da morte, então não há o que nos faça pessoa. A dignidade não é um título concedido por uma autoridade externa, por um pacto ou um ato voluntário que decida "isto é pessoa, isto não é"; a dignidade está lá, desde sempre. Ou não estará, para sempre. A nenhum homem foi dado o direito de decidir quem tem ou não essa propriedade essencial que nos torna humanos. Este é o ser cujo valor coincide com o fato: para o homem, o fato de ser já é um valor -- e valor inalienável, pois ninguém tem o poder de dar ou tirar este valor senão destruindo o homem e a si mesmo. Superamos a linha da animalidade do primeiro instante ao último. O animal no homem é uma ilusão criada por aquele insuportável excesso de certeza. É uma ilusão pensar que eu me relaciono com um amontoado de células a partir do qual, por força sabe-se lá vinda de onde, eu possa decidir quando se tornará ou não digno de ser chamado de pessoa humana.
(Francisco Razzo)
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