
São Francisco não contentou-se em unicamente seguir o Cristo. No seu encantamento com a pessoa do Filho de Deus, assemelhou-se e configurou-se com Ele.
No dia 17 de setembro a Família Franciscana celebra, em todo o mundo, a festa da impressão das Chagas, também chamada de Estigmas de São Francisco de Assis. Veiculamos a seguir um artigo do Frei Régis G. Ribeiro Daher, publicado hoje no website Franciscanos:
Mais do que desvendar o caráter histórico das Chagas de São Francisco,
importa refletir sobre a experiência de vida que se esconde sobre este
fato. O que significa a expressão de Celano “levava a cruz enraizada em
seu coração”? O que isso significou para o próprio Francisco? Há um
significado para nós hoje, naquilo que com ele ocorreu?
Um erro comum é o de ver São Francisco como uma
figura acabada, pronta, sem olhar para a caminhada que ele fez até
chegar à semelhança perfeita (configuração) com o Cristo. O que ocorreu
no Monte Alverne é o cume de toda uma vida, de uma busca incessante de
Francisco em “seguir as pegadas de Jesus Cristo”. Francisco lançou-se
numa aventura, sem tréguas, na qual deu tudo de si: a vontade, a
inteligência e o amor. As chagas significam que Deus é Senhor de sua vida. Deus encontrou nele a plena abertura e a máxima liberdade para sua presença.
O segundo significado das chagas é o de que Deus não
é alienação para o ser humano, ao contrário, é sua plena realização e
salvação. Colocando-se como centro da própria vida é que o homem se
aliena e se destrói; torna-se absurdo para si mesmo no fechamento do seu
‘ego’. O homem só encontra sua verdadeira identidade, sua própria
consistência e o sentido de sua existência em Deus. E Francisco fez esta
descoberta: Jesus Cristo foi crucificado em razão de seu amor pela
humanidade – “amou-os até o fim” – , e ele percorre este mesmo caminho.
O terceiro significado: as chagas expressam que a
vivência concreta do amor deixa marcas. A exemplo de Cristo, Francisco
quis suportar/carregar e amar os irmãos para além do bem e do mal (amor
incondicional). Essa atitude o levou a respeitar e acolher o ‘negativo’
dos outros mantendo a fraternidade apesar das divisões. Esse acolher e
integrar o negativo da vida é a única forma de vencer o ‘diabólico’,
rompendo com o farisaísmo e a autosuficiência, aniquilando o mal na
própria carne. Só assim, o homem é de fato livre, porque não apenas
suporta, mas ama e abraça o negativo que está em si e nos outros.
O quarto significado: seguir o Cristo implica em
morrer um pouco a cada dia: “Quem quiser ser meu discípulo, tome a sua
cruz a cada dia e me siga” (Lc 9,23). Não vivemos num mundo que
queremos, mas naquele que nos é imposto. Não fazemos tudo o que
desejamos, mas aquilo que é possível e permitido. Somos chamados a viver
alegremente mesmo com aquilo que nos incomoda, vencendo-se a si mesmo e
integrando o ‘negativo’, de modo que ele seja superado. Nós seremos nós
mesmos na mesma medida em que formos capazes de assumir nossa cruz. As
chagas de São Francisco são as chagas de Cristo, e elas nos desafiam:
ninguém pode conservar-se neutro, sem resposta diante da vida.
São Francisco não contentou-se em unicamente seguir o
Cristo. No seu encantamento com a pessoa do Filho de Deus,
assemelhou-se e configurou-se com Ele. Este seu modo de viver está
expresso na “perfeita alegria”, tema central da espiritualidade
franciscana: “Acima de todos os dons e graças do Espírito Santo, está o
de vencer-se a si mesmo, porque dos todos outros dons não podemos nos
gloriar, mas na cruz da tribulação de cada sofrimento nós podemos nos
gloriar porque isso é nosso”.
https://pt.aleteia.org/2013/09/17/impressao-das-chagas-de-sao-francisco-o-sentido-e-o-significado/
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